BANNER 4

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sociologicamente falando...

Recentemente a Sociologia voltou a ser disciplina obrigatória no Ensino Médio. Isto pegou, de surpresa, tanto alunos quanto professores, trazendo distintas dúvidas sobre o "por que" e "para que" estudar Sociologia; e sobre "o que" estudar em Sociologia.
Até a década de 1980, haviam diversos cursos de licenciatura em Ciências Sociais no Brasil. Ou cursos semelhantes, como o famoso Humanidades. Há poucos anos, a grande maioria daqueles cursos de licenciatura passaram a ser substituídos por bacharelados, uma vez que o ensino de sociologia passavam a ser incorporado em outras matérias das ciências humanas, principalmente História. Creio que este tenha sido o elemento que melhor contribuiu para a formação nos novos sociólogos. Os antigos, perdoem-me a minha expressão, aprenderam "na marra". Com os incentivos às pesquisas acadêmicas, orientações, iniciações científicas e bolsas de mestrado e doutorado, as Ciências Sociais, no Brasil, têm rompido fronteiras que outras ciências, já maduras, ainda testam. Se sociólogo é cientista, tem de aprender a fazer ciência.
Agora a Sociologia retorna às cadeiras secundaristas, todavia, tanto os novos sociólogos quanto os velhos, que resolveram se dedicar ao ensino desta tão "chata" matéria aos alunos do ensino médio, ou não sabem dar aulas (deficiência pedagógica causada pela substituição da licenciatura pelo bacharelado), ou se esqueceram de como é dar aulas de sociologia, uma vez que, com os anos, se acostumaram a ministrar outras matérias: história, ensino religioso, artes (por mais incrível e inacreditável que pareça).
O resultado é facilmente percebido, primeiro pelos alunos e, somente depois pelos professores: confusão.
Outra variante que deve ser levada em consideração quando pensados os desafios para alunos e professores do ensino médio com o aprendizado de sociologia é o de que, infelizmente, ensino médio, hoje, é cursinho pré-vestibular. Sendo assim, é normal um aluno questionar o ensino de sociologia numa fase em que a maior preocupação de todos é o vestibular, que cobrará dos mesmos o conhecimento de fórmulas e suas aplicações na Física, na Matemática, na Química (...) e conhecimentos sobre organismos biológicos que, sim, é necessário ser aprendido. Ou, como alguns alunos costumam dizer: “Sociologia é um tipo de História, só que mais chata”.
Bom, como sociólogo que sou, digo e afirmo: eles estão certos. Sociologia no ensino médio é uma chatice sem tamanho. Isto se ensinada da forma como é ensinada.
Vejam que eu não sou pedagogo, e nem mesmo tenho qualquer tipo de especialização na área de docência, mas, assim como a matemática, a biologia, a física, a química e outras ciências naturais e humanas, a sociologia tem uma aplicação muito mais ampla que o conhecimento sobre as “transformações do Séc. XVIII”, ou sobre as biográficas de Marx, Weber e Durkheim. É claro que esses são Clássicos da Sociologia e que o conhecimento de suas obras é básico e obrigatório no entendimento sociológico. Mas que tal deixar este estudo para os sociólogos e privar os secundaristas dessas “chatices” e partir para aquilo que é uma Sociologia, de fato?
Por favor, não me julguem antes de lerem todo o meu artigo. Não é minha pretensão ser um reducionista. Eu seria leviano. Não possuo um conceito pronto e fechado para caracterizar o que acabei de chamar “Sociologia de fato”. Mas o que proponho é que tentemos desenhar, para os nossos alunos, o que são e como são usadas as distintas “lentes sociológicas”, que os próprios alunos terão que construir, assim como nós, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos fazemos em nossas análises. Ou seja, “Sociologia de fato”. Bom, é claro que, para isso, tenho que conhecer um pouco da História desta Ciência: as transformações do Sec. XVIII, alguns conceitos de Marx, Weber, Durkheim etc.. Mas, estes Clássicos apenas nos ensinaram a como criarmos os nossos próprios instrumentos de trabalho: métodos, conceitos, focos.
O objetivo deste Blog é o de compartilhar com alunos e professores do Ensino Médio, e também (por que não), acadêmicos e professores do Ensino Superior sobre o estudo da Sociologia.
Olhar para um composto químico, ou para um organismo biológico, ou mesmo para um projétil ou função matemática, analisá-los, criar conceitos, engajar-se na eterna luta pela “verdade” (...), este é o interesse de qualquer cientista. E daí, podem vir os relativistas e criticarem, mas a verdade é que todo mundo busca a VERDADE. Até mesmo os que dizem que: “Em verdade eu vos digo que nada é verdade, mas tudo é relativo”. Bom, esta é uma frase completamente anti-relativista... então, permaneço com minha concepção.
No mais, chamando para perto os relativistas (inclusive eu me considero um), não é a intenção deste blog afirmar verdades, mas levantar debates. Conto com a colaboração e o compartilhamento de experiências, artigos, produtos de todos.
Sociologuemos!!!

2 comentários:

  1. Eu não sei nada de sociologia, aliás eu não sei nada de nada, apesar de já ter tentado saber de muita coisa, inclusive sociologia... mas eu creio que voce está falando de tornar a disciplina mais prática e menos teórica (já que a natureza da disciplina é teórica), pelo pouco que estudei disso quando tentei aprender, creio que não é difícil observar a sociologia na vida circundante, no mundo em geral, (problematizar como dizia Tonin)a não ser que seja um eremita. Esse tópico, acho q é importante demais pro modelo educacional da sociologia no ensino médio que está se formando ainda, seria interessante se voce publicasse um outro explicando melhor seu ponto de vista e divulgando pros seus colegas discutirem...

    ResponderExcluir
  2. Sim Pedro.. to falando de uma praticidade maior na sociologia de Ensino Médio. Digo e repito que não é uma substituição da teoria, mas a Sociologia ensinada no ensino médio é a mesma introduzida a universitários. É como se vc fosse estudar Cálculo no segundo grau, quando o importante é se ter noçoes básicas de utilização da matemática em seus distintos contextos.
    Assim também a sociologia deve ser introduzida aos secundaristas de forma a que os mesmos sejam capazes de reconhecer a sua necessidade em distintos momentos da vida social (eleições, propaganda, trabalho etc.).

    ResponderExcluir

E aí, o que acharam deste artigo? Pode soltar o verbo!